Por ocasião da abertura do 10º Festival de Cinema de Bari na Itália, o grande homenageado foi o compositor Ennio Morricone, que após receber a chave da cidade, foi homenageado pelo seu amigo, o compositor e maestro Nicola Piovani. Inspirado por San Nicola, padroeiro da cidade de Bari, Nicola Piovani de improviso fez um belíssimo discurso no qual fez questão de frisar que muito antes do cinema se beneficiar da música de Morricone, ele já se mostrava um compositor verdadeiramente extraordinário, notadamente pelo valor da sua produção erudita mas também pelo grande sucesso das canções que compôs, interpretadas pelas mais belas vozes da Itália. Na plateia estava o cineasta Giuseppe Tornatore que teve a felicidade de contar com o trabalho musical desses dois mestres, Nicola Piovani em O PROFESSOR DO CRIME e Ennio Morricone a partir de CINEMA PARADISO. Quando vejo meus dois grandes ídolos juntos, impossível não pensar no erro crasso cometido por dois jornalistas. O primeiro foi o israelense Ephraim Katz que editou uma enciclopédia de cinema e colocou a informação equivocada que Nicola Piovani era pseudônimo de Ennio Morricone. A rigor Morricone teve sim pseudônimos, mas que foram Dan Sávio e Leo Nichols, nada mais. Já o outro jornalista, o brasileiro Cadão Volpato que na década de noventa na condição de diretor da revista Set embarcou no mesmo erro numa matéria relativa a Morricone, também se referindo a Nicola Piovani como pseudônimo. Ao enviar um e-mail para a revista alertando para o erro, ainda tive que pagar um “mico”, pois praticamente fui chamado de mal informado na seção de cartas. Um dos piores defeitos de um jornalista é a arrogância, pois isso faz com que ele pense ser o que não é, acabando por fazer o que não devia ser feito. Com este desafio de provar quem estava falando a verdade e como um jornalista aplicado, fiz contato com Nino Piovani, irmão de Nicola que me municiou de farto material para desmascarar a revista e fui o que fiz, nem assim, o editor da revista teve a humildade de reconhecer o equivoco cometido. Mais tarde, o próprio Piovani ao ganhar o Oscar pela música do filme A VIDA É BELA deixaria sua imagem estampada pelo mundo inteiro. Ennio Morricone e Nicola Piovani são romanos nascidos em épocas distintas, cada qual tem um talento especial que caracteriza suas obras.