Ao longo da história da cinematografia dos Estados Unidos, vamos encontrar centenas de produções que mostram a escravidão, porém, pouquíssimos são os filmes que tratam sobre a libertação dos escravos. O filme HARRIET da cineasta Kasi Lemmons, se preocupa justamente em tratar sobre o tema da libertação de escravos. Para isso, ela foi pesquisar a trajetória de uma mulher que se notabilizou pela audácia de ter conseguido resgatar centenas de escravos das suas senzalas. Harriet Trubman não só conseguiu empreender uma fuga fantástica da escravidão, como retornou para salvar centenas deles. O cinema até então, nunca havia apresentado uma cinebiografia dessa lendária figura da história americana, cujo reconhecimento dos seus méritos recentes, cogitam até mesmo de se colocar a sua imagem nas notas de 20 dólares. A cineasta Kasi Lemmons trabalhou em cima de um roteiro dos anos noventa, que havia sido feito por Gregory Allen Howard, tratando de enriquecê-lo, inclusive com alguns personagens fictícios, mas que serviram para reforçar a mensagem do filme. A pesquisa que a cineasta Kasi realizou sobre Harriet Trubman, permitiu que ela conseguisse entender ainda a força que a espiritualidade exerceu permitindo não só a sua liberdade, mas de centenas de outros, cujas vidas estavam ameaçadas pelo regime da escravidão. Você poderia perguntar, porque as façanhas heroicas de Harriet demoraram cem anos para serem mostradas no cinema e reconhecidas? Poderia resumir tudo na associação de duas palavras, machismo e preconceito. É claro que o enredo é sempre capaz de despertar a nossa curiosidade, mas a representação nunca pode ser desprezada. Nesse sentido, o desempenho da atriz inglesa Cynthia Erivo, depois de brilhar nos palcos da Broadway, conseguiu entrar no personagem Harriet de forma rigorosamente impecável, tanto no aspecto físico, emocional como espiritual. Um outro componente deste espetáculo cinematográfico impecável foi sua trilha sonora, confiada ao competente Terence Blanchard, parceiro de outros projetos da cineasta Kasi Lemmons. Um dos grandes méritos do compositor Terence Blanchard, na estruturação da sua trilha sonora, foi a capacidade de oferecer uma pontuação que tivesse absoluta consonância com os aspectos fundamentais da personagem central, os feitos heroicos, a compaixão e a espiritualidade. Esse tripé sustentou a narrativa de forma tão perfeita, que se alguém na saída do cinema perguntasse ao espectador, a opinião sobre a música, ganharia uma pergunta como resposta: mas teve música? Eu então complemento, dizendo que não tem resposta mais gratificante para um compositor de trilhas do que essa percepção do público, pois é o atestado eloquente de que a música cumpriu a sua finalidade quanto a reforçar as cenas, sem roubar os méritos.