A partir de um texto original do roteirista americano Christopher Kubasik que ensejou uma serie de cinco capítulos na televisão americana, o cineasta italiano Paolo Genovese resolveu contar a sua história. O palco dos acontecimentos é uma lanchonete, em cuja mesa do fundo está uma figura misteriosa que está disposta a realizar o sonho das pessoas, desde que estas se disponham a cumprir uma tarefa. Afinal, qual seria o seu grande sonho e objetivo na vida? Se você contasse para essa figura, ele apresentaria de imediato, a partir da consulta na agenda, de algo que você teria que fazer em troca do seu objetivo de vida. De acordo com o perfil de cada visitante daquele lugar, pode-se ter a noção clara da sua conotação de valores. Existe espaço para a satisfação de uma fé, uma vaidade, um desejo sexual, uma reconciliação, a cura de uma doença e até mesmo o que se convencionou chamar de milagres. Claro, que para cada desejo desses, haverá sempre um preço a ser pago, justamente no cumprimento das tarefas que o misterioso personagem apresenta para cada visitante do The Place.
Independente do texto original ser de uma serie americana, o mais importante no cinema está justamente na capacidade de cada cineasta, encontrar um jeito de contar a história da sua maneira. Nesse sentido, os filmes de Genovese sempre procuram mergulhar no fundo da alma humana, testando justamente a nossa própria capacidade não de julgar os outros, mas de olhar no espelho e reconhecer quem somos afinal de contas. O filme nos instiga a pensar justamente até que ponto não estamos desejando algo no sentido de quem sabe aliviar uma dor, mas não percebemos que essa dor está na alma. Mas afinal de contas o poeta gaúcho Mario Quintana lembra que a alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe. Então, até que ponto esses desejos todos desses personagens do filme, muitos deles tendo a ver com os nossos próprios desejos, será que existem mesmo ou seria apenas fruto da nossa própria imaginação.
A trilha sonora confiada ao compositor Maurizio Filardo, companheiro de jornadas do cineasta Paolo Genovese. A garçonete Angela estava intrigada com o profundo mistério que cerca aquela enigmática figura que ocupava todo dia a mesa de fundo da lanchonete. Sempre sisudo, nunca abriu um sorriso, eis que ela coloca no jukebox um compacto simples com a canção Sunny na voz de Bobby Hebb e como se fosse uma mágica, parece que as nuvens carregadas se dissipam e parece surgir um novo tempo. A letra da música diz “obrigado por esse sorriso no rosto, os dias escuros se foram e os dias brilhantes estão presentes”.
Mais um filme instigante de Paolo Genovese, que nos instiga a pensar sobre aquilo que realmente desejamos para as nossas vidas. Camões tinha razão quando escreveu: “Coisas impossíveis, é melhor esquecê-las que desejá-las”.