O filme PARIS, TEXAS mostra um homem que vagueia sem destino à procura de seu passado e identidade. Acaba então reencontrando sua mulher, que trabalha numa espelunca do Texas, e o irmão e a cunhada, a quem deixou a guarda de seu filho. Este é o enredo do filme dirigido por Wim Wenders que tem no elenco Natassja Kinski e Harry Dean Stanton.
A trilha sonora, que foi indicada ao Bafta da Inglaterra, foi composta por Ry Cooder. Ryland Peter Cooder, ou se você preferir o seu nome artístico, Ry Cooder nasceu no dia 15 de março de 1947 em Los Angeles, Califórnia. Aos quatro anos de idade tocava violão para orgulho dos pais que estimularam a sua inclinação musical. Na adolescência, tocou com o renomado Jack De Shanon e chegou a formar um conjunto intitulado Rising Sons with Taj Mahal. Ry Cooder é um dos grandes ativistas da música popular norte-americana, seus trabalhos para o cinema evidenciam raízes regionais que, muitas vezes, oferecem contornos apurados às paisagens cinematográficas. Em 1980, ele se torna amigo do cineasta Walter Hill, que o convida para fazer a trilha sonora do seu filme A CAVALGADA DOS PROSCRITOS. A história da quadrilha de Jesse James, formada por grupos de irmãos. Violência estilizada em elogiado filme que tem como curiosidade a utilização de três duplas e um trio de irmãos-atores interpretando os foras-da-lei do Velho Oeste. No elenco deste filme, duas duplas de irmãos, Dennis Quaid e Randy Quaid e David Carradine e Keith Carradine.
Em 1981, Ry Cooder dá mais uma demonstração do seu grande talento na trilha de O CONFRONTO FINAL, sob a direção do amigo Walter Hill, com um elenco formado por Keith Carradine e Peter Coyote. Alegoria sobre a Guerra do Vietnã. A carreira de Cooder no cinema parece engrenar e outros nomes da direção acenam-lhe com um trabalho como o conceituado Tony Richardson que dirigiu FRONTEIRA DA VIOLÊNCIA, no qual a música de Cooder assume um papel extremamente importante, no sentido de incrementar a narrativa cinematográfica. No elenco de FRONTEIRA DA VIOLÊNCIA temos a figura carismática de Jack Nicholson.
Em 1984, mais um convite para o cinema, RUAS DE FOGO, que partiu do amigo Walter Hill que já estava acostumado ao trabalho de Cooder. O enredo do filme é sobre uma gangue de motoqueiros que rapta uma cantora de um clube noturno e provoca pânico no bairro.
No mesmo ano de 1984, outro convite de um importante nome do cinema, Wim Wender, para fazer a trilha de PARIS, TEXAS, que se transformou no seu trabalho de maior expressão. No ano seguinte, 1985, Ry Cooder já detinha um reconhecimento muito importante não só dos críticos, mas, sobretudo, dos produtores de Hollywood. Em razão disso, pela primeira vez ele iria trabalhar com um cineasta europeu de enorme prestígio, Louis Malle, por ocasião de A BAIA DO ÓDIO, filme estrelado por Ed Harris e Amy Madigan. Ex-refugiados vietnamitas estabelecem-se como pescadores, no Golfo do Texas, mas os imigrantes não são aceitos pelos nativos da região. A tranquila colônia transforma-se com o ódio gerado pelos preconceitos culturais. Em 1986, Ry Cooder é convidado pelo amigo Walter Hill para outro projeto que se encaixava perfeitamente nas suas raízes musicais. Trata-se de A ENCRUZILHADA. Jovem e talentoso guitarrista está à procura de uma canção que o leve ao estrelato. Inspirado por um velho bluesman, ele o acompanha numa viagem até a legendária encruzilhada onde o veterano um dia negociou com o demônio sua alma em troca da fama. No elenco, as presenças de Ralph Macchio e Joe Sêneca. Ainda em 1986, outro projeto interessante atraiu Cooder, que foi o filme CIDADE CORROMPIDA, sob a direção de Michelle Manning com Ally Sheedy e Judd Nelson. Filho pródigo volta à cidade em que nasceu e descobre que o pai foi assassinado e que seu torrão natal é agora um antro de corrupção e violência. Com a ajuda de um antigo amigo e da irmã deste, empreende uma perigosa luta contra os poderosos do lugar.
O compositor Ry Cooder estava muito envolvido com o cinema e quase esquece sua carreira de músico, cantor, violonista nos anos 1980 e voltou a gravar seus discos. Seu retorno ao cinema acontece então em 1989, com o filme UM ROSTO SEM PASSADO, dirigido pelo amigo Walter Hill, com Mickey Rourke e Ellen Barkin no elenco. Em 1993, Cooder é convidado pelo amigo Walter Hill para fazer um western, GERÔNIMO, UMA LENDA AMERICANA, estrelado por Wes Study, Gene Hackman, Robert Duvall, mais um interessante desafio na sua carreira. O general tenta forçar o líder apache, Gerônimo, a deixar suas terras, o índio foge desafiando a autoridade do exército, que destaca 5000 homens para prendê-lo. Segue-se o que se tornaria uma das mais conhecidas caçadas humanas da história americana. Foi um trabalho bastante elogiado pela crítica que gerou um álbum que foi indicado e levou o Grammy.
Ry Cooder é o compositor de trilhas mais vocacionado quando se trata de produzir um trabalho mais nacionalista e de acordo com as raízes norte-americanas.
Na trilha de PARIS, TEXAS, temos a “Cancion Mixteca”, interpretada pelo ator Harry Dean Stanton.
A música de Ry Cooder para o filme revela um poder quase que mágico ao conseguir acompanhar a trajetória do personagem Travis numa espécie de deserto que, ao mesmo tempo, chega a ser metafórico e real.
Sem dúvida, a trilha sonora de PARIS, TEXAS conseguiu uma dimensão muito maior do que a do próprio filme, atestando a qualidade do trabalho de Ry Cooder, notadamente pela originalidade.