A trilha nacionalista oferece algumas pistas ao espectador já a partir do seu tema principal, com isso poderia ser possível identificar o palco das filmagens, o local em que vai se desenrolar a história a ser contada na tela.
Por um lado, a trilha pode permanecer impregnada por um ritmo característico de onde se desenrola a história. Mas a trilha fica estruturada a partir da concepção visual oferecido pelas cenas. No filme A QUALQUER PREÇO, filme do cineasta Giuliano Montaldo de 1967, temos algumas cenas mostrando o Rio de Janeiro. Quando indaguei do compositor italiano Ennio Morricone qual foi a sensação de ter composto pela primeira vez um samba, ele afirmou: “Tive sorte, na época que estava preparando esta trilha de ter encontrado um grupo de músicos brasileiros que excursionavam pela Itália. Convidei o grupo para gravar algumas músicas que aproveitei na trilha!” Além das músicas interpretadas pelo grupo brasileiro, o próprio Morricone teve a oportunidade de compor um belo samba intitulado “Vai via Maliconia”. Como o filme não foi totalmente rodado no Brasil, então neste caso não se trata de uma trilha nacionalista. Mas por outro lado em 1988 o cineasta Paul Mazurski fez questão de rodar o seu filme LUAR SOBRE PARADOR em Ouro Preto. O filme conta com as participações de Sonia Braga, Regina Casé e outros brasileiros. A trilha foi composta pelo francês Maurice Jarre que talvez até quisesse compor algo parecido com samba, mas saiu algo mais parecido com salsa. Como o filme não identificava o lugar como Brasil, mas sim uma republica sul americana, então poderia se aceitar a trilha nacionalista para a cidade fictícia de Parador.
Mas em 1992 por ocasião do filme O CURANDEIRO DA SELVA, do diretor John Mctiernan, estrelado por Sean Connery o palco das filmagens é a selva amazônica. O filme deveria ser rodado em solo brasileiro, mas como chovia naquela época do ano, então resolveram criar uma floresta artificial nos estúdios de Hollywod. O compositor Jerry Goldsmith foi contratado para compor a trilha que talvez tenha levado mais em consideração os países fronteiriços com a floresta amazônica como Bolívia, Colômbia e Peru. Percebe-se claramente que Goldsmith tentou estruturar uma trilha nacionalista, mas não ficou nada referenciada com o Brasil, mas um tipo de música andina que se aproximaria mais do Peru. Diferentemente, por exemplo de 1983 quando Jerry Goldsmith compôs a trilha sonora do filme SOB FOGO CERRADO do diretor Roger Spottiswoode, onde o palco das filmagens é a Nicarágua. Neste esmerado trabalho o compositor Jerry Goldsmith conseguiu produzir uma música com estreita relação com as raízes do palco das filmagens, a Nicarágua. O violão, a marimba, trompete e muita percussão e madeira.
O compositor grego Mikis Theodorakis produziu trabalhos antológicos em filmes como ELECTRA, ZORBA O GREGO, Z, ESTADO DE SÍTIO e muitos outros, com a sua música nacionalista deixando a sonoridade identificar o palco das filmagens.
Astor Piazzolla chegou a compor quase que uma centena de trabalhos para o cinema, com a sua música transpirando o ritmo sensual do tango. A sua trilha mais nacionalista indiscutivelmente foi para o filme de 1985 de Fernando Solañas TANGO-EXÍLIO DE GARDEL. Outro argentino que brilhou na constelação de Hollywood foi Lalo Schifrin e teve a oportunidade de produzir a sua trilha mais nacionalista que foi o filme de Carlos Saura TANGO DE 1998.
Por mais que se possa sugerir um aspecto pratico e fácil a elaboração de uma trilha nacionalista implica a necessidade de uma pesquisa musical. Muitas vezes percebemos uma grande confusão de ritmos quando se trata de produzir trilhas nacionalistas especialmente para os países da da América Central e do Sul.