TRIBUTO PARA MAURICE JARRE

Enviado por admin em qua, 09/12/2018 - 21:57
Maurice Jarre morreu de câncer aos 84 anos, no dia 29 de março de 2009. Sua música continua viva por meio de famosas produções cinematográficas que ficam perpetuadas em nossa lembrança.

Maurice Jarre graduou-se pelo Conservatório de Música de Paris, estudando com a renomada Nadia Boulanger. Detentor de uma característica inconfundível, seus trabalhos ganharam ressonância sendo lembrado por importantes nomes da direção. Ele trabalhou ao longo de uma carreira de 49 anos dedicados à música no cinema, com os mais respeitados cineastas de todos os tempos como David Lean, Luchino Visconti, René Clement, Georges Franju, Henry Verneuil, Peter Weir, Michael Anderson, Elia Kazan, Adrian Lyne e tantos outros importantes nomes. Foram mais de 160 trilhas compostas. Em nenhum momento a sua escala de trabalho foi em ritmo industrial, pois a cada trabalho ele revelava um extremo rigor com a estrutura musical oferecida a cada cena do filme. Esse seu jeito meticuloso e calculado de introduzir a música é que fascinou grandes mestres da direção. Ao longo de sua vitoriosa carreira ele conquistou muitos prêmios, por exemplo, ele obteve nove indicações para concorrer ao Oscar, arrebatando três estatuetas, exatamente com LAWRENCE DA ARÁBIA, DOUTOR JIVAGO E PASSAGEM PARA A ÍNDIA. Maurice Jarre chegou a compor algumas peças clássicas, mas que lamentavelmente as gravações nunca estiveram disponíveis. As suas trilhas são sempre permeadas por um clima erudito, a denunciar a forte formação musical que obteve com Nadia Boulanger. Em 1992, ele regeu a Royal Philarmonic Orchestra no Abbey Road para uma plateia de privilegiados expectadores. Esta apresentação rendeu a gravação de um CD contendo a esmerada programação. Além dos inúmeros prêmios que recebeu pelos trabalhos produzidos para o cinema, Maurice Jarre também foi distinguido com muita honra com a condecoração do título de Oficial da Ordem Nacional da República da França pelo Presidente Francois Mitterand, no ano de 1994.

Indubitavelmente esta trilha de DOUTOR JIVAGO se constituiu na verdadeira obra-prima do compositor Maurice Jarre. Pela primeira vez, ele compõe um Réquiempara a cena do funeral da mãe de Yuri. A partir da presença em cena de uma balalaika, que é deixada pela mãe de Yuri como a única peça de herança, o instrumento é incorporado na trilha sonora do filme. Outro desafio interessante, diante do qual Maurice Jarre mais uma vez esbanja talento, é a cena do Student Café, com uma imponente valsa ao melhor estilo russo. Num instante agudo do filme, para a cena de grande expressão quando os cossacos se insurgem contra uma passeata socialista, a música de Jarre é de uma imponência digna de um Prokofiev, assim como as cenas próprias de um Eisenstein.

Depois de desencontros, finalmente Jivago e Lara ficam frente a frente, mas numa frontde batalha, onde atendem os feridos do confronto de russos com alemães. Mas o Tema de Lara só seria entoado a partir do instante da partida de Lara, de volta a Moscou, evidenciando o sentimento de saudade que toma conta de Jivago.

Um aspecto extremamente interessante, na inserção da música na trilha sonora de DOUTOR JIVAGO, está no fato de que a música tinha muito mais relação com o pensamento do personagem do que propriamente a ação, com isso o cineasta David Lean procurou não permitir que a música pudesse interferir na narrativa. 

Outro instante poético do filme está na cena de transição entre o inverno e a primavera, quando então a música assume o comando das emoções e reforça sobremaneira as imagens.

 Maurice Jarre confessou que não foi fácil chegar até o tema de Lara, uma vez que depois de três tentativas, todas elas rejeitadas pelo cineasta Lean, ele conseguiu encaixar um tema que moldasse ao personagem central da história. Jarre contou que estava ficando estressado com a pressão exercida por Lean, quando este sugeriu a ele que tirasse um final de semana para esvaziar a cabeça, indo para a praia. Quando retornou ao trabalho na segunda-feira, Jarre tinha pronto o tema de Lara.

Maurice Jarre morreu de câncer aos 84 anos, no dia 29 de março de 2009. Sua música continua viva por meio de famosas produções cinematográficas que ficam perpetuadas em nossa lembrança.