O filme INSTINTO SELVAGEM traz Michael Douglas no papel de um detetive que se apaixona por uma escritora bissexual que é acusada de assassinato, interpretada por Sharon Stone. Um enredo aparentemente banal para a indústria do cinema, mas com dois componentes que contribuíram para que o filme tivesse um diferencial em relação a qualquer outra produção. A cena da cruzada de pernas da personagem Catherine, interpretada por Sharon Stone, enquanto estava sendo interrogada, é algo que fica registrado como uma das cenas antológicas em nível da abertura do Mar Vermelho em OS 10 MANDAMENTOS. O outro diferencial do filme está em sua trilha sonora, confiada à competência de Jerry Goldsmith. Nos créditos iniciais do filme os acordes mágicos de uma música inebriante.
O tema principal retorna em vários momentos do filme, sempre com uma roupagem diferenciada, o que denotava claramente a grande versatilidade que Goldsmith oferecia à música principal.
O filme começa com uma tórrida cena de sexo, na qual a personagem desfere no amante vários golpes com um fura gelo. Os acordes da música de Goldsmith marcam o ritmo da cena.
Com sua competência habitual, o diretor Paul Verhoeven soube explorar toda a potencialidade da trilha de Goldsmith, preservando os momentos em que a música não se fazia necessária e valorizando a inserção dos acordes quando a cena pedia. Na cena do depoimento de Catherine na delegacia, temos uma ausência de música até o instante da cinematográfica cruzada de pernas. Nesse instante, a música de Goldsmith faz aflorar os instintos mais íntimos de todos que fixam os olhares para o sexo escancarado da personagem.
A música “Morning After” parece exalar todo o clima de intenso sexo vivido na noite anterior. Goldsmith captou magistralmente por meio de notas, o que poderia melodicamente ser representado.
Jerry Goldsmith tal como o vinho, quanto mais envelhecia, mais brotava o seu talento permitindo que sua criatividade transpirasse oferecendo partituras que contribuíam para valorizar a produção cinematográfica. A sua característica musical permitia aos fãs identificar prontamente quando uma trilha levava a sua assinatura. Qualquer que fosse o gênero cinematográfico, a música de Goldsmith se encarregava de auxiliar a narrativa, contribuindo para reforçar as cenas mais importantes da realização.
Por ocasião de Instinto Selvagem 2, o compositor John Scott se sentiu mais do que compelido a usar o tema principal de Goldsmith que praticamente havia se transformado num prefixo musical.
A trilha de Jerry Goldsmith para INSTINTO SELVAGEM ficou com quase 43 minutos, tempo mais do que suficiente para cobrir os 128 minutos de filme de forma absolutamente impecável.