ÚLTIMO TANGO EM PARIS (1972)

Enviado por admin em seg, 10/02/2017 - 17:17
Trilha sonora original do filme Último Tango em Paris composta por Gato Barbieri

A produção ÚLTIMO TANGO EM PARIS, do cineasta italiano Bernardo Bertolucci, foi vítima de uma odiosa campanha que teve por objetivo denegrir o filme, notadamente pela audácia e coragem do enredo. Marlon Brando, em mais um grande desempenho, vive um homem de meia idade que tenta se recuperar depois do suicídio da esposa. Nesse momento, ele encontra, num apartamento vazio, uma garota com quem se envolve. O filme de Bernardo Bertolucci tem cenas ousadas de sexo, inclusive uma da manteiga que se tornou famosa.

Nos créditos iniciais do filme, a música é estilizada não sendo identificado o tema título que permearia as cenas. Nas cenas iniciais, privilegia-se o som da rua, em detrimento da ausência de música. Quando a personagem vivida por Maria Schneider chega defronte ao prédio da Rua Julio Verne, irrompem os acordes da música do argentino Gato Barbieri. Em vários momentos do filme, a música cede lugar aos ruídos do som ambiente. Barbieri faz com que sua música entre e saia das imagens, até que a própria história comece a revelar um fio condutor. Quando os personagens, vividos por Marlon Brando e Maria Schneider, encontram-se no interior do apartamento, a música sai de cena para não interferir no diálogo. Mas quando se instala o silêncio, a música de Barbieri pede passagem e entra para adornar as cenas. O primeiro orgasmo do casal acontece sem a presença da música, quanto aos demais à inserção da música é comedida. O ritmo da música se torna frenético a partir das cenas nas ruas de Paris.

Num dos encontros do casal, Brando dá uma de Harmônica, personagem de Charles Bronson em ERA UMA VEZ NO OESTE, quando começa assoprar uma gaita. Em outro momento, a música de Barbieri lembra os acordes de Bernard Herrmann em PSICOSE, quando a personagem de Maria Schneider acha uma navalha no bolso do amante. O tango entra para valer, na cena do concurso de tango, em que o ritmo é marcado notadamente pelo movimento de pernas dos dançarinos. O casal de amantes está próximo do rompimento, pra selar a separação, ela masturba o amante, a música de Barbieri surge como prefixo da dupla. O golpe resolutório do filme se dá com o corpo do amante, depois de ser alvejado por um tiro, ficar estendido no chão do apartamento. Nesse momento, os acordes rompantes da música de Barbieri acenam para o desfecho final.

Mas o que contribuiu para perpetuar ainda mais o sucesso do filme foi sua trilha sonora, confiada a Gato Barbieri, cujo nome de batismo é Leandro Barbieri, um argentino de Rosário nascido no dia 28 de novembro de 1934. Antes de estourar nas paradas de sucesso com a música de ÚLTIMO TANGO EM PARIS, o compositor Gato Barbieri havia trabalhado para dois filmes brasileiros, O REI DOS MILAGRES, de Joel Barcellos, e NA BOCA DA NOITE, de Walter Lima Júnior.

Depois de ÚLTIMO TANGO EM PARIS, Gato Barbieri chegou a compor a trilha de alguns filmes, mas nenhum conseguiu notoriedade. Ele viveu um tempo em Roma, onde conheceu Pier Paolo Pasolini e Bernardo Bertolucci.

A trilha sonora de ÚLTIMO TANGO EM PARIS conseguiu oferecer uma dimensão internacional na trajetória artística de Gato Barbieri que recebeu uma indicação para concorrer ao Grammy e, posteriormente, começaram a surgir convites para apresentações como músico de jazz, em importantes eventos como os festivais de Montreaux, Berlim e muitos outros.

Gato Barbieri tem feito apresentações pela Europa e Estados Unidos, em todas as apresentações, torna-se rigorosamente obrigatória a inclusão da trilha sonora de ÚLTIMO TANGO EM PARIS que, em 1998, teve uma edição de luxo do selo Ryko que além de trazer um belíssimo encarte, trouxe também músicas que não foram aproveitadas no filme. Os arranjos e regência da trilha sonora de ÚLTIMO TANGO EM PARIS estiveram a cargo de Oliver Nelson.

Gato Barbieri faleceu no dia 02 de Abril de 2016,vítima de uma pneumonia aos 83 anos.