O LABIRINTO DO FAUNO

Enviado por admin em dom, 11/07/2021 - 18:57
O Labirinto do Fauno - de Guillermo del Toro (roteirista e diretor do filme homônimo) e Cornelia Funke (escritora e ilustradora alemã) - curiosamente, foi escrito por Cornelia, a partir do filme de Guillermo, num movimento inverso ao que costuma acontecer.

O Labirinto do Fauno - de Guillermo del Toro (roteirista e diretor do filme homônimo) e Cornelia Funke (escritora e ilustradora alemã) - curiosamente, foi escrito por Cornelia, a partir do filme de Guillermo, num movimento inverso ao que costuma acontecer: surge o livro, depois o filme. A obra – da Editora Intrínseca - tem uma apresentação primorosa, com ilustrações do enredo, cujo clima é denso e sombrio; como certos momentos e situações da vida. 
A principal personagem da história é Ofélia, uma menina de 13 anos, que vive no cotidiano brutal da Espanha fascista. Minha experiência enquanto leitora, foi inicialmente de prazer e curiosidade, apesar da sensação de estranhamento com as cores utilizadas no livro: muito preto, contrastando com azul turquesa, ilustrações em tons de cinza e off White. No final, o estranhamento deu lugar à percepção de coerência artística entre o clima emocional da história e sua esmerada apresentação gráfica. Uma obra de arte, que suscita no leitor prazer estético e admiração pelo entrelaçamento entre a formatação do livro e seu conteúdo. A leitura nos inspira e nos remete a áreas de sonhos - prelúdios para pensamentos significativos a respeito do ser e do viver. Mas também nos inquieta e perturba. Somos tocados por situações de desamparo, medo, insensibilidades e crueldades, que se intensificam à medida que a história se desenvolve. Para enfrentar tudo isto, Ofélia recorre a um universo mágico, que extrapola os limites entre a imaginação e a realidade. A fantasia ora a socorre, ora a confunde, convidando o leitor a olhar e tolerar a complexidade e os mistérios do viver humano, os labirintos da vida. A linguagem é poética, convidativa a reflexões. A obra, rica em simbolismos, pede para ser relida e discutida. Traz elementos que permeiam nosso cotidiano, ora em oscilações, ora se misturando: vida e morte / sonho e realidade / medo, desamparo e esperanças que convocam a buscas e lutas / orfandade e fraternidade / crueldade /amor e o ardente desejo humano por convívios de continência amorosa, reconhecimento e harmonia, também transpostos para os misteriosos espaços que transcendem nossa realidade. 


Maria Inês Baccarin- Psicóloga clínica ,Professora adjunto da Universidade Federal de Uberlândia, especialização na área da Psicologia do Desenvolvimento Humano.