No seu livro Minha Vida, Charles Chaplin fala sobre o seu trabalho realizado no filme LUZES DA CIDADE, do qual foi o responsável pela trilha sonora. A principal dificuldade que ele encontrou foi justamente com o advento do cinema sonoro, já que com o som os artistas praticamente se esqueceram de fazer pantomima. Para a trilha sonora do filme, a grande inspiração de Chaplin foi a música “La Violetera”. Chaplin, a partir da sonorização dos filmes, também passou a cuidar da parte musical, demonstrando mais um talento que poucos conheciam, compondo as músicas. A trilha sonora de LUZES DA CIDADE é permeada de uma atmosfera romântica e de profunda delicadeza. Na realidade com essa trilha, Chaplin foi o responsável por romper um padrão que era seguido no cinema pelos arranjadores, que sempre procuravam fazer com que a música fosse engraçada. Já Chaplin fazia questão de explorar a capacidade da música de contribuir para aprofundar a emoção, assim a trilha sonora de LUZES DA CIDADE é absolutamente esplendida. Nada como saber ler música, pois bastava Chaplin olhar a partitura e logo detectar se estava muito impregnada de metais ou madeiras. Para ele, tudo tinha que ser perfeitamente balanceado. Chaplin confessou a profunda emoção que sentiu quando teve a oportunidade de ouvir pela primeira vez a sua música perfeitamente sincronizada com as cenas e executadas por uma orquestra de cinquenta componentes.
Em 1991, a gravadora inglesa Silva Screen editou a trilha sonora original de LUZES DA CIDADE, executada pela The City Lights Orchestra com regência de Carl Davis. Uma gravação fantástica dessa antológica trilha sonora que nos mostra, a partir da Overture, o que deveria ser a música de todos os filmes do personagem Carlitos. O momento da emoção mais aguda do filme é a cena, ao som de “La Violetera”, da florista cega por quem o vagabundo se apaixona. Já na cena da luta de boxe, a música serve para atenuar o impacto e violência da prática esportiva.
No auge do confronto da China com a Coréia, o primeiro ministro chinês Chu En-Lai fez questão de assistir, numa sessão privada, ao filme LUZES DA CIDADE, em companhia do próprio Charles Chaplin em Pequim.
Chaplin compôs 18 trilhas para os seus filmes, seu último trabalho foi para A CONDESSA DE HONG KONG de 1967.
Em 1972, Charles Chaplin foi homenageado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood que resolveu premiar sua trilha sonora para o filme LUZES DA RIBALTA (1952). O filme LUZES DA CIDADE teve sua exibição proibida, bem como Chaplin impedido de entrar nos Estados Unidos pela simpatia demonstrada a favor dos comunistas. No entanto, vinte anos mais tarde, os americanos se penitenciariam por esse ato, e para corrigir tal injustiça, Chaplin acabou ganhando um Óscar de melhor trilha por LUZES DA RIBALTA.A trilha sonora de LUZES DA CIDADE foi composta com a maior satisfação por Chaplin, pela oportunidade de produzir acordes que evidenciassem uma música de conotação delicada e romântica. Aliás, essa era uma dificuldade de Chaplin com os seus arranjadores, que insistiam no fato de que a música tinha que ser engraçada. Ao contrário, a música de Chaplin era sempre uma espécie de contraponto exalando graciosidade e encanto, já que o que mais interessava era a capacidade da música ser capaz de expressar sentimento. Essa preocupação Chaplin dividiu com o então diretor do departamento musical do estúdio, Alfred Newman.Em Tempos Modernos (1936), Chaplin compôs o belíssimo tema Smile. O filme nos comove da primeira até a última cena, muito bem feito e literalmente humano, área que Chaplin sondava com, ou talvez melhor, sabedoria que Freud! Seu último filme A CONDESSA DE HONG KONG teve na música a sua melhor contribuição. Ficou conhecida em todo mundo na voz de Petula Clark.