O compositor Jerry Fielding tinha estilo próprio, inconfundível, sempre revelou um enorme potencial para explorar os mais distintos gêneros cinematográficos, brindado os apreciadores da música no cinema com partituras de grande talento, que no fundo evidenciavam a sua grande paixão pelo jazz. Aliás, os especialistas o identificavam como detentor de um estilo de jazz moderno. A trajetória de Fielding foi extremamente árdua, percorrendo caminhos sinuosos até chegar a um ponto de ser reconhecido pelo talento e competência no trato com a música no cinema. Sua primeira trilha de sucesso para o cinema foi para o filme MEU ODIO SERÁ TUA HERANÇA, dirigido por Sam Peckinpah. O filme começa com um assalto seguido de um intenso tiroteio que chega a tirar o fôlego do espectador. A música de Fielding desempenha um papel crucial no desenvolvimento de toda a trama do filme, grifando apropriadamente os instantes de maior suspense desse western rigorosamente inesquecível.
Jerry Fielding, com objetivo de pontuar o local onde o grupo de foras da lei vai buscar refúgio, o México, utiliza a canção tradicional “La Golondrina”. Para a execução original da música mexicana para o filme, Fielding contou com uma banda de Mariachi que dentre os membros apresentava o espanhol Jose Nieto, que viria a se transformar num importante compositor de trilhas para o cinema.
A própria canção, tema de MEU ÓDIO SERÁ TUA HERANÇA, tem acordes característicos da tradicional música mexicana. O brasileiro Laurindo Almeida, que era considerado como um dos maiores violonistas do mundo, aparece solando essa canção, e com seu violão entoa outros acordes importantes da trilha.
Um dos aspectos que mais chama a atenção na trilha que Fielding concebeu para MEU ÓDIO SERÁ TUA HERANÇA é a percussão. Além dos nomes já elencados, tivemos ainda outros grandes músicos compondo a orquestra formada por Jerry Fielding como o jazzista Bud Shank com solo de flauta. Outro grande expoente foi o gaitista Tommy Morgan que já havia valorizado com os acordes de seu instrumento a trilha sonora do filme A CONQUISTA DO OESTE (1962). Em setembro de 2010, Tommy Morgan completou 60 anos de música no cinema para Hollywood. A harmônica que se ouve na trilha sonora de TREZE HOMENS E UM NOVO SEGREDO (2007) é a de Tommy Morgan. Como se vê, o compositor Jerry Fielding dentro de todo o seu rigor contou com a participação de importantes nomes da música, o que serviu para valorizar, sobremaneira, o seu trabalho para o filme de Sam Peckinpah, MEU ÓDIO SERÁ TUA HERANÇA.
Quando foi rodar OS IMPLACÁVEIS (1972), o cineasta Sam Peckinpah convocou Fielding para compor a trilha sonora. Peckinpah não gostou do trabalho de Fielding e acabou optando pela trilha composta por Quincy Jones. Na realidade, foi Steve McQueen quem convenceu Peckinpah a abrir mão do trabalho de Fielding em detrimento de uma trilha mais jazzística produzida por Quincy Jones. No ano seguinte, no filme PAT GARRET E BILLY THE KID, Fielding desistiu de trabalhar na trilha que foi composta por Bob Dylan, que a rigor faria apenas as canções.
Em 1974, Jerry Fielding é convocado para compor a trilha sonora de TRAGAM-ME A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA, dirigido por Sam Peckinpah. Mais uma vez produz um trabalho de grande expressão numa suíte de 23 minutos e nove segundos, registrada na gravação de um CD especial da Bay Cities com tiragem limitada de 1.500 cópias.
Desde muito cedo, Joshua (Jerry) Fielding desenvolveu um instinto para a música. Quando iniciou os estudos, logo entrou para uma big-band da sua escola, na qual tocou trombone, que era o seu instrumento preferido. Com o tempo, ele foi estimulado a tocar clarinete, gostou e aprofundou suas performances nesse instrumento. Jerry Fileding foi um compositor de característica própria e de muita personalidade que imprimia em cada trabalho uma concepção musical diferenciada, com sua música que muitas vezes fazia um contraponto com as cenas, o que levava o público a ficar conectado com a história que estava sendo contada na tela. A trajetória de Fielding foi extremamente árdua, percorrendo árdua trajetória até chegar a um ponto de ser reconhecido pelo talento e competência no trato com a música no cinema. Ele foi um compositor profundamente inovador, fazendo uma música diferenciada do que normalmente aparecia no cinema. Sempre utilizando recursos dissonantes, sua partitura interagia perfeitamente com as cenas, o que contribuía pra valorizar a própria produção. Jerry Fielding tinha a mais profunda simpatia pelo trabalho musical de Bernard Herrmann, notadamente aqueles acordes dissonantes, que tanto marcaram sua música. Mas ele também tinha ouvidos para apreciar a boa melodia dos trabalhos de Henry Mancini, de toda forma, parece que conseguiu, sem imitar, inspirar-se adequadamente e sob medida nesses dois nomes e produzir uma música extremamente original, que sempre se colocava a serviço do filme. Os diretores que trabalhavam com Fielding ficavam fãs do seu trabalho, isso aconteceu com Sam Peckimpah, com Michael Winner e ainda Clint Eastwood.
Jerry Fielding, compositor nascido no Canadá, mas com alma americana, estava no melhor da sua forma musical, quando morreu de ataque cardíaco no dia 17 de fevereiro de 1980, aos 58 anos de idade.