Produção dirigida por George Seaton e com um elenco formado por grandes estrelas: Burt Lancaster, Dean Martin, Jean Seberg, Jacqueline Bisset e George Kennedy, O AEROPORTO mostra um psicopata ameaçando explodir o avião e o piloto sendo obrigado a fazer um pouso forçado. Toda essa atmosfera tensa se contrapõe à mansidão emanada do tema principal de uma trilha soberba composta pelo legendário Alfred Newman no seu derradeiro trabalho para o cinema. Newman é considerado uma das maiores legendas de Hollywood, um compositor que conseguiu galgar os postos de maior relevo dentro da música no cinema e angariou respeito de autênticos mestres. Deixou uma contribuição extremamente significativa para o período que ficou conhecido como Idade de Ouro da música no cinema. Alfred Newman nasceu em New Heaven, Connecticut, no dia 17 de março de 1901. Antes dos dez anos de idade, já dava mostras da sua genialidade e talento musical, aflorado principalmente pelo estímulo da família e ainda tinha a felicidade de contar com excelentes professores. Tudo isso contribuiu para que ele desse início a uma carreira que, desde o início, apontava para o cinema. Antes dos trinta anos de idade, ele já era regente e diretor musical, tendo atuado como tal na produção LUZES DA CIDADE, de Charles Chaplin, produção de 1930. Em 1931, por ocasião do filme MÉDICO E AMANTE, dirigido por John Ford, ele cria uma melodia para temperar cenas de rua, que foi incorporada pelo cinema. Essa mesma música apareceria em dezenas de filmes, graças à sensibilidade com que Newman transformou em acordes esse momento. Alfred Newman morreu no dia 17 de fevereiro de 1970, vítima de um enfisema pulmonar, que surgiu em detrimento dos mais de quatro maços diários de cigarros que ele consumia.
Pouca gente sabe que Alfred Newman além de regente de orquestra, diretor de departamento musical, compositor e músico, também chegou a aparecer como ator, aliás, em quatro oportunidades, sendo a primeira em 1938, mas foi, em 1954, em THE CINEMASCOPE PAREDE, que ele aparece no papel do compositor Joseph Haydn. Foram inúmeros desafios profissionais e, em todos eles, a sua determinação e talento afloravam nos embates com produtores e diretores, sempre prevalecendo o seu bom senso musical. Em O MANTO SAGRADO, quando o produtor David Selznick se desentendeu com Bernard Herrman, Newman aparece como solução para o impasse e sua música ficou a altura do épico. Alfred Newman ao longo de sua carreira de quarenta anos, dedicados à mùsica no cinema, recebeu os mais importantes prêmios em reconhecimento ao seu talento. Para que se tenha uma ideia do seu valor, ele é o campeão absoluto da história do Oscar, o prêmio mais ambicionado do cinema. Foram 9 estatuetas ao todo, a primeira em 1938 pelo de A EPOPÉIA DO JAZZ. Seguiram-se prêmios por A VIDA É UMA CANÇÃO, A CANÇÃO DE BERNARDETTE, E OS ANOS PASSARAM, MEU CORAÇÃO CANTA, SUA EXCELÊNCIA A EMBAIXATRIZ, SUPLÍCIO DE UMA SAUDADE, O REI E EU e AEROPORTO, seu último trabalho para o cinema, em 1970. Alfred Newman não só é o campeão absoluto e recordista na obtenção de Oscars, mas também de indicações, já que 40 trilhas de sua autoria foram indicadas para este importante prêmio. Uma delas que não ganhou, mas que recebeu referências elogiosas da crítica e do público, foi o trabalho para O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, produção de 1939. Foram 218 trilhas compostas para o cinema, algumas delas nem creditadas ao seu nome, mas todas com a marca do seu talento.
Alfred Newman, quando entrou para a United em 1930, deixou os executivos do estúdio boquiabertos, pois ele transpirava música por todos os poros. Numa fase em que os departamentos musicais funcionavam como discoteca de rádio, fazendo seleções musicais para os filmes, ele aparecia com a receita musical pronta para a produção cinematográfica, sua música ficava sempre com a cara do filme, como no caso de COMO ERA VERDE O MEU VALE, que arrancou elogios até do sisudo John Ford, para quem o maior talento era Victor Young.
Fica difícil escolher um trabalho especificamente de Alfred Newman e dizer simplesmente que este é o melhor. Na realidade, o conjunto da sua obra reflete o que ele fez durante uma carreira vitoriosa, em que sempre preponderava o espírito criativo e a utilidade da música ao filme, como em A MALVADA, filme de Joseph Makienvicz, estrelado por Betty Davis. Alfred Newman era um profundo conhecedor da história da música, por isso a cada trabalho produzido para o cinema, prevalecia sempre muita pesquisa, isto para que a música fosse a mais funcional, a nacionalista e a de acompanhamento perfeito.
Quando foi convidado para compor a trilha sonora do clássico ANASTÁCIA, estrelado por Ingrid Bergman e Yul Brynner, ele se debruçou em detida pesquisa e o resultado foi uma verdadeira obra de conteúdo lírico. Uma música pujante, marcante, notadamente original, pois não parece com nada que se tenha ouvido antes, assim era o trabalho de Alfred Newman, que angariou respeito por tudo que representou para a música no cinema, pois naquela época os estúdios mantinham seus departamentos musicais e suas orquestras com até cem integrantes, valorizando o peso que a música exercia no contexto da narrativa cinematográfica.