Em todos os concertos de Ennio Morricone, a música mais contagiante para o público é o tema principal de TRÊS HOMENS EM CONFLITO, filme de 1966, dirigido por Sergio Leone. A funcionalidade dessa trilha no filme é algo absolutamente incontestável, com um padrão musical totalmente diferente do que se tinha ouvido em matéria de música para este gênero cinematográfico. Morricone é um compositor dotado de rara sensibilidade quanto a entrar no âmago da história que está sendo contada, além de tocar no pensamento do personagem. O tema título tem uma peculiaridade toda especial, com um instrumento para cada personagem, para Blondie (Clint Eastwood) temos a flauta, sendo que para o Blue Eyes (Lee Van Cleef) o clarinete e a voz humana quando aparecia em cena o personagem Tuco (Eli Wallach).
Na cena inicial do filme, temos o som dos coiotes, que vai pontuar os momentos agudos da produção cinematográfica.
Outro instante tocante do filme é a chamada “sessão de tortura”, num campo de prisioneiros que são torturados ao som de um conjunto que faz o contraponto com uma melodia soturna.
A sequência intitulada “Êxtase do Ouro” é permeada de uma emoção emanada dos acordes vocais que no filme pertencem à Edda Dell’orso e que nos concertos de Morricone foi consagrado pela participação vocal de Suzanna Rigacci.
A sequência final do filme é verdadeiramente fantástica com o confronto dos três personagens no cemitério. Estabelece-se um autêntico bailado muito bem pontuado com a música de Morricone sustentando toda a emoção e suspense da cena. A música de Ennio Morricone para TRÊS HOMENS EM CONFLITO entrou em 2009 para o Grammy Hall Fame.
Morricone tem um especial encanto pela voz feminina que o motiva e enche de entusiasmo e estímulo, especialmente no caso da soprano Susanna Rigacci, pela qual Morricone tem expressado, de maneira poética e por vezes dramática, as sensações que emanam da sua música.
A música tema de TRÊS HOMENS EM CONFLITO, mais uma vez prova a inesgotável capacidade do compositor de produzir músicas que possam ser ouvidas e serem prontamente assimiladas pelos milhares de ouvintes. Este é um aspecto que justifica bem o enorme sucesso de suas músicas. Não é por acaso que ele é reconhecido como a maior expressão da música no cinema de todos os tempos. A capacidade de Morricone começou a aparecer justamente quando decidiu estudar música.
Colocando o trabalho como mais importante que a própria inspiração, Morricone confirma uma frase antológica dando conta de que na música como nas artes em geral existe 1% de inspiração e 99% de transpiração. Essa transpiração é marcada pelo trabalho diário, frequente e obstinado, que permite que surjam novas ideias e daí advém o próprio processo criativo.