Seguramente o filme, mais pessoal de Woddy Allen, MANHATTAN, é uma autêntica declaração de amor à cidade de Nova Iorque. Conforme relatou no livro de Eric Lax, foi o próprio cineasta que sempre fez as seleções musicais para as trilhas de seus filmes. O curioso é que Allen não tinha como primeira opção a música de Gershwin para o filme MANHATTAN. Antes de aproveitar a música de Gershwin, o que aconteceu foi um namoro longo de Allen com “Rhapsody in Blue”, imaginando que ficaria sob medida num filme. Allen conta no livro de Lax, que, durante as filmagens, algumas pessoas da equipe não entendiam o motivo de tanta demora em determinadas cenas. Enquanto isso, Woddy Allen imaginava que quando as cenas tivessem sendo temperadas com a música de Gershwin, todos acabariam entendendo.
A cidade de Nova Iorque, o bairro de Manhattan e o filme de Woody Allen não poderiam ser mais bem representados pela trilha sonora recheada de composições de George Gershwin, ainda mais com execução da Filarmônica de Nova Iorque. Muito embora não seja uma trilha originalmente composta, ela valorizou a fotografia de Gordon Willis, além da própria produção cinematográfica.
George Gershwin já foi tema para uma cinebiografia que levou o nome da sua música mais célebre, “Rhapsody in Blue”, de 1945, num filme dirigido por Irving Rapper. Além disso, a música de Gerorge Gershwin esteve presente nas trilhas sonoras de centenas de produções feitas tanto para o cinema quanto para televisão.
Woody Allen preferiu abrir mão de uma trilha originalmente composta para ficar com uma seleção que indica sua preferência pessoal, isso não significa que ele não valorize a música. Ele, muito pelo contrário, repetidas vezes reconheceu que a música tem a capacidade até de salvar uma determinada cena. Muitas vezes, se o filme não agrada, mas a música é boa, ela fica na lembrança, como, aliás, já tivemos a oportunidade de mostrar no programa A Música no Cinema, através de reiterados programas sob o tema “Muita Música para Pouco Filme”.
Ao longo de sua trajetória no cinema, o cineasta já teve a oportunidade de trabalhar com trilhas originalmente compostas para os seus filmes, com composições feitas por Marvin Hamlisch, Dick Hyman e mais recentemente Philip Glass.
O fato de Woody Allen muitas vezes preferir fazer ele mesmo a seleção musical para a trilha sonora de seus filmes, não tem a ver com a questão de orçamento restrito. Tem muito mais a ver com a questão do cinema de autor, como eram as produções de Ingmar Bergman, que muitas vezes não aceitava que suas cenas dividissem os méritos com a música. Na história da música no cinema, vamos encontrar situações que evidenciam parcerias muito bem sucedidas como de Fellini com Rota, Spielberg com Williams, Truffaut com Delerue, Edwards com Mancini e aquelas estremecidas como de Herrmann com Hitchcock.