Foi uma árdua trajetória até David Raksin conseguir o seu primeiro grande sucesso para o cinema, em 1944, trabalhando para o cineasta Otto Preminger em LAURA. A trilha sonora do filme é um dos ícones musicais do cinema, com mais de 400 versões o que denota o seu grande sucesso.
David Raksin foi um dos últimos representantes da fantástica era da música no cinema, conhecida como Idade de Ouro. Raksin nasceu na Filadélfia em 04 de Agosto de 1912. Aos doze anos de idade já tocava piano e instrumentos de sopro de madeira, uma inclinação especial para a música em função da herança genética do pai que era regente. Raksin era uma criança prodígio, visto que enquanto cursava a escola secundária já dominava a técnica de orquestração. Mais tarde, na Universidade de Pensilvânia, teve a oportunidade de aprofundar seus estudos e conhecimentos. Em Nova Iorque, atuou como coordenador de uma orquestra que pertencia a uma emissora de rádio. Foi nessa época que Raksin conheceu nomes importantes da música, dentre os quais George Gershwin que lhe abriu as portas na Broadway. Começava então uma nova etapa na vida de Raksin, pois quem trabalhava na Broadway já podia se considerar em Hollywood. Em 1935, Raksin foi convidado para fazer a orquestração da trilha sonora de TEMPOS MODERNOS de Charles Chaplin, iniciando, assim, sua trajetória em Hollywood. Em 1936, ele trabalhou como assistente do renomado maestro Leopold Stokowski, oportunidade em que foi convidado para compor a sua primeira trilha sonora original para o filme DANCING PIRATES. A partir deste instante, o nome de Raksin começava a ecoar pelos quatro cantos dos estúdios cinematográficos.
Ele trabalhou com alguns diretores sem expressão e outros remanescentes do cinema mudo como Lloyd Bacon para quem fez a música de RUA 42 e SAN QUENTIN. Convém destacar que antes do sucesso de LAURA, no ano anterior, 1943, Raksin protagonizou uma discussão na imprensa com o diretor Alfred Hitchcock. Durante uma conferência de imprensa sobre o filme UM BARCO E NOVE DESTINOS, Hitchcock teria feito uma piadinha com a música composta por Hugo Friedhofer, afirmando que “no meio do oceano ele não sabia muito bem de onde vinha a música”. Raksin tomando as dores do colega não titubeou e respondeu: “perguntem ao Sr. Hitchcock de onde vêm as câmeras”. O episódio não prosperou e no final muita gente incorporou o fato como mais uma das piadinhas sobre a história da música no cinema.
Em outro trabalho com Otto Preminger, em 1947, por ocasião do FILME ENTRE O AMOR E O PECADO, Raksin obtém a sua primeira indicação para concorrer ao Óscar de Melhor Trilha Sonora, mas perdeu a estatueta para o seu amigo Miklos Rozsa, pelo brilhante trabalho em FATALIDADE.
Em 1952, David Raksin trabalhou para o cineasta Vincent Minnelli em ASSIM ESTAVA ESCRITO, com Lana Turner e Kirk Douglas no elenco. A música para o filme de Minnelli foi sacrificada pelo fato de ser uma trilha excessivamente funcional, ou seja, a serviço do filme. Como a produção não obteve sucesso, a música também não apareceu. Raksin voltaria a concorrer ao Óscar somente em 1958, com o filme dirigido por Delbert Mann, VIDAS SEPARADAS, mas quem leva mais uma vez a estatueta é Miklos Rozsa com a trilha de BEN-HUR.
O penúltimo trabalho de Raksin para o cinema foi em 1972, com o filme CASAS DE VIDRO, dirigido por Alexander Singer, fotógrafo de Stanley Kubrick. A sua última contribuição musical para o cinema foi com o filme O DIA SEGUINTE, dirigido por Nicholas Meyer, produção de 1983.
Em 46 anos dedicados ao cinema, David Raksin compôs 52 trilhas sonoras, mas apenas LAURA conseguiu um enorme sucesso, a maioria de suas obras permaneceu ignorada pelo grande público.
Raksin parou de produzir para o cinema, mas continuou incursionando pelo campo erudito. O compositor passou a frequentar o circuito das palestras e com isso contribuiu para difundir a música no cinema pelo mundo inteiro. Em 1998, ele esteve no Japão, onde encontrou um público extremamente apaixonado pela música no cinema.
Marcou presença em vários eventos, principalmente quando suas obras eram executadas, como foi o caso de um Festival de Música de Câmara, na cidade de Santa Fé na Califórnia, onde foi apresentada uma peça para clarinete e cordas de sua autoria.
David Raksin faleceu no dia 09 de Agosto de 2004 em sua casa em Van Nuys, Califórnia.
David Raksin deve ser reverenciado por tudo que fez em prol da música. A marca do seu talento está perpetuada por meio dos inesquecíveis acordes de LAURA, uma música que é um verdadeiro alimento do amor. Mas o tema para LAURA, que tem seu percurso em todo filme com variações que vão do lirismo ao incidental e cresce num rompante sinfônico elevou Raksin a uma proeminente carreira na indústria cinematográfica. Ele não só compôs uma excepcional trilha para LAURA, bem como compôs uma melodia tão bonita que continua entre as mais tocadas e gravadas.