Desde 1970 comecei acompanhar a trajetória de Nicola Piovani exatamente no momento em que começava sua parceria com o cineasta Marco Bellochio. A partir dos anos oitenta, comecei a adquirir suas trilhas sonoras em CD. Um aspecto que chamava a atenção nos seus trabalhos era a capacidade que a sua música exercia quanto ampliar a percepção através das imagens do filme de tal forma que reforçava a narrativa. Mais do que um mero acompanhamento, a música participava do discurso cinematográfico. As trilhas que Piovani compôs para os filmes de Nanni Moretti tinham a cara do filme. As narrativas dos filmes dos irmãos Taviani eram reforçadas pelas músicas de Piovani. Roberto Begnini conseguiu sua obra prima com A VIDA É BELA, mas o que seria do filme sem a música de Piovani que conquistou até mesmo a Academia de Ciências e Artes de Hollywood ao conquistar o Oscar. Mario Monicelli que sempre foi muito exigente com as músicas de seus filmes, contou primeiro com Nino Rota e depois com Carlo Rustichelli. Mario Monicelli que sempre foi muito exigente com as músicas de seus filmes, contou primeiro com Nino Rota e depois com Carlo Rustichelli. Monicelli desde 1981 ficou encantado com a capacidade criativa de propor soluções musicais para o seu filme por parte de Piovani a partir do filme O Marques do Grilo com o hilariante Alberto Sordi. Com o cineasta Gianfranco Mingozzi que foi assistente de Federico Fellini, o compositor Nicola Piovani trabalhou em nove filmes. Um dos grandes sucessos de Mingozzi foi por ocasião do filme FLAVIA A MONJA MUÇULMANA, o cineasta ficou fascinado com a música de Piovani. Gianfranco Mingozzi indicou o nome de Nicola Piovani para trabalhar com Fellini em 1986 por ocasião de GINGER E FRED, trabalho que valeu a continuidade em A ENTREVISTA e A VOZ DA LUA . A atriz e hoje cineasta Laura Morante conheceu Piovani em 1985 por ocasião do filme AS DUAS VIDAS DE MATTIA PASCAL. Mais tarde ele se reencontraram no filme de Nanni Moretti O QUARTO DO FILHO. Em 2012 no primeiro filme dirigido por Laura Morante ela chamou Piovani para compor a trilha de LA CERISE SUR LE GÂTEAU e em 2016 novamente com a comédia ASSOLO. Essas parcerias representam não só a confiança que o trabalho musical de Piovani inspira, mas sobretudo a sua capacidade em permitir que sua música não roube os méritos das cenas, mas que possa auxiliar na narrativa. Em 1995 tive a felicidade de conversar com Nino Piovani, irmão de Nicola, por ocasião de uma matéria da revista Set sobre Morricone, que mencionava Nicola Piovani, como se fosse pseudônimo de Morricone, por causa de um erro na enciclopédia de Ephraim Katz, já me referi a esse episódio em outras oportunidades. Em 13 de setembro de 2014 estive em Roma e aproveitei para visitar o estúdio de Nicola Piovani, que infelizmente não se encontrava, ele estava na Bélgica para um concerto. Fui a Roma não para ver o Papa, mas para tentar entrevistar Nicola Piovani, visto que em 2009 consegui entrevistar um outro ídolo, Ennio Morricone e tinha a expectativa de conseguir o mesmo intento quanto a Piovani. Em 2015, tentei trazê-lo ao Brasil, para apresentações em Uberlândia e São Paulo, mas infelizmente o cenário da crise econômica não permitiu. Tanto Piovani como Morricon, suas músicas sempre fizeram parte da minha existência, pois elas tinham vida própria desprendidas das cenas dos filmes para os quais foram concebidas. Muitas pessoas querem saber por que eu gosto tanto da música no cinema e eu respondo que ela faz parte de um mundo sonoro e da própria vida humana. Com Nicola Piovani essa percepção é ainda mais real pela capacidade da sua música conduzir a nossa emoção. Fui a Roma e Piovani não estava lá, da próxima vez quem sabe. Neste dia 26 de Maio Nicola Piovani completa 73 anos de uma existência povoada de muita música.
AUGURI NICOLA PIOVANI!