Pelo título poderia lembrar aqueles filmes de Kurosawa com títulos longos como aquele de 1960 Os Homens que Pisaram na Cauda do Tigre. O CENTENÁRIO QUE FUGIU PELA JANELA E DESAPARECEU é o título do livro escrito por Jonas Jonasson e que foi muito bem adaptado para o cinema pelo cineasta sueco Felix Herngren em 2013 no seu segundo longa metragem, ele que se especializou em series televisivas. Se o título não é muito inspirador para despertar o seu interesse, quem sabe contando um pouco da história você não muda de idéia. Primeiro você poderia imaginar sobre o gênero do filme e pelas primeiras cenas, pensaria num drama denso sobre Allan, um homem centenário que morava num lar de idosos. A partir do momento em que tomar conhecimento sobre o que aconteceu antes dele chegar ao abrigo, então você poderá até mudar o gênero, pois o gato de estimação de Allan foi morto por uma raposa, e o que ele fez com a raposa? Simplesmente dinamitou-a! Essa cena é extremamente importante quanto a mostrar o próprio perfil desse homem centenário. O que era drama já passa para um tom de aventura, claro que não pretendo contar o filme, mas imagina agora que esse centenário foi testemunha de fatos históricos, tendo vivido alguns que vão desde a Revolução Russa de 1917, passando pela ditadura de Franco até a queda do muro de Berlim, é ou não uma experiência fantástica? Numa narrativa binária que alterna os fatos do presente com o passado, isso transforma o complexo livro de Jonasson no filme O Centenário Que Fugiu pela Janela e Desapareceu, uma divertida comédia que é valorizada sobretudo pelo desempenho fantástico do cômico sueco Robert Gustafsson que também veio das series televisivas para o cinema. Mas, a grande surpresa desse filme ficou mesmo por conta da sua trilha sonora que é verdadeiramente primorosa e foi composta por Matti Bye. Trata-se de um compositor de formação erudita que se especializou no piano e com isso desenvolveu uma técnica semelhante à do meu amigo Tony Berchmans. Acontece que em 1989 quando estudava música em Estocolmo, certa vez Matti Bye teve um desafio interessante pois o clube de cinema da escola foi exibir o clássico Encouraçado de Potemkin de Serguei Eisenstein e ele acabou fazendo o acompanhamento das cenas ao piano. A partir dessa experiência, ele tratou de aperfeiçoar o improviso e isso tem auxiliado no sentido de oferecer aos filmes uma qualidade de acompanhamento verdadeiramente extraordinária como ficou evidenciado em O Centenário Que Fugiu pela Janela e Desapareceu. A trilha sonora de Matt Bye mostra que a sua capacidade de improvisar acabou se constituindo na soma de todas as suas experiências vivenciadas.