Depois de trabalhar a culpa em O HOMEM ERRADO, novamente Hitchcock depara-se com o tema ao filmar INTRIGA INTERNACIONAL. Um filme kafkiano e claro hitchcockiano, com o publicitário Thornhill (Cary Grant) que é sequestrado equivocadamente por uma quadrilha. Começa então a clássica corrida entre o gato e o rato, com idas e vindas. Como Hitchcock rodou o filme de maneira a não permitir que a trama ficasse suficientemente clara, o próprio Cary Grant foi reclamar para o diretor de que não sabia do que se tratava o filme. Em meio a tantas dúvidas, Hitchcock conseguiu imprimir em INTRIGA INTERNACIONAL uma narrativa de um autêntico thriller. O filme promoveu uma das cenas mais inusitadas da história do cinema, em que o personagem Tornhill foge por um descampado sendo perseguido por um avião. O público foi preparado de forma que a cada mergulho do avião, todos levassem um novo susto. A cena foi valorizada sobremaneira pela trilha sonora de Bernard Herrmann. A rigor, o tema de abertura de INTRIGA INTERNACIONAL sugere uma teia de emoções que está por acontecer.
O compositor Alfred Newman, na década de 1930, concebeu uma música para cenas de rua, que por ser bem feita foi aproveitada em pelo menos três produções. Bernard Herrmann também não deixou por menos em INTRIGA INTERNACIONAL, com uma música de rua que tem a capacidade de nos embalar no ritmo das passadas da multidão aglomerada nas calçadas. Quanto à música da colisão de veículos, os metais configuram muito bem o sinistro.
O jornalista Paulo Francis, de forma jocosa, costumava dizer que o compositor Henry Mancini fazia muita música de elevador. Ora, em INTRIGA INTERNACIONAL temos um precioso tema “The Elevator”, no qual Herrmann liga o tema principal com o clima de suspense.
Na cena ocorrida no interior do prédio das Nações Unidas, Hitchcock contou ao cineasta François Truffaut que ele entrou com um fotógrafo no prédio, clandestinamente, e fotografou tudo que precisava, para depois reconstituir o prédio nos estúdios. A música de Herrmann para a cena em que um homem é apunhalado pelas costas tem um efeito premonitório, mas o público não espera que aquilo aconteça no prédio das Nações Unidas.
Para a cena inusitada do avião perseguindo o personagem Tornhill, a música de Herrmann se coloca defensivamente até o desenrolar da ação, quando, de forma vigorosa, metais e cordas contribuem para maior densidade da ação.
E a cena nas Montanhas Rushmore acaba se constituindo em mais um momento agudo de intensa emoção do filme, com uma construção musical perfeita de Bernard Herrmann, novamente invocando o tema principal e com variações a insinuar a intensa emoção do desenrolar das cenas.
A trilha sonora de INTRIGA INTERNACIONAL foi a quinta colaboração de Bernard Herrmann para Alfred Hitchcock. Primeiro veio O TERCEIRO TIRO (1956), seguido por O HOMEM QUE SABIA DEMAIS (1956) filme que em que Bernard Herrmann aparece regendo a Sinfônica de Londres nas dependências do Albert Hall em Londres. Em 1957, foi a vez de O HOMEM ERRADO, quando Herrmann produziu um das trilhas mais diferenciadas para os filmes de Hitchcock. Em 1958, no filme UM CORPO QUE CAI, em que as vertigens da morte e do amor se misturam, Bernard Herrmann teve enorme capacidade de captá-los melodicamente na sua trilha.
O tema final de INTRIGA INTERNACIONAL é uma mistura do lirismo musical de UM CORPO QUE CAI, com o vigor que o tema do filme sugere. Mais uma vez, Bernard Herrmann mostrou o porquê de ter conseguido, num espaço de tempo de oito anos, trabalhar em oito filmes de Alfred Hitchcock.
Em 1966, o filme CORTINA RASGADA, marcou o rompimento de uma parceria que desestruturou as carreiras do compositor Herrmann e do cineasta Alfred Hitchcock.